AINDA SOBRE E DE AMÉRICO MARINHO, PINTOR E PROFESSOR DA ESCOLA INDUSTRIAL E COMERCIAL DE SANTARÉM


Não era fácil dar-se pelo professor Marinho, na escola ou nas ruas da cidade, ao contrário de outros professores que, pelas mais diversas IMG_3516razões, acabavam por dar nas vistas. O professor Marinho, lembro-me, caminhava rápida e silenciosamente, ao que me parecia a maior parte das vezes absorto, o pensamento em qualquer mundo distante, qualquer questão só dele, talvez séria, porém sem deixar de ser afectuoso, pequenos sorrisos para este, aquele aluno, mãos atrás das costas, no seu caminhar sossegado, um certo acanhamento quando as alunas o rodeavam, com carinho. Ficou-me esta imagem para sempre, como uma fotografia reconfirmada em várias sessões, só de o ver passar, que infelizmente não fui seu aluno, reconheço agora que muito perdi, talvez a minha total incapacidade para essa arte do desenho tivesse sido um pouquinho atenuada… Porém, quando um dia comecei a saber que, afinal, Américo Marinho, era um artista de eleição, muitos anos passavam já sobre a minha saída da nossa Escola e foi agora, com a minha presença na homenagem que lhe foi prestada pela Câmara Municipal do Barreiro, que pude ver, na exposição retrospectiva da sua obra (patente no Auditório Municipal Augusto Cabrita) parte da expressão artística do grande mestre do desenho e da pintura. Uma autêntica revelação, um prazer enorme ao ver como, com uns aparentemente simples traços, é possível dar a ver rostos, imagens e paisagens de uma beleza imensa. Obras de grande beleza, marcadas pela sobriedade e por uma luz… indizível.

Damos a ler, em seguida, o que do próprio Américo Marinho e sobre ele recolhemos:

DE AMÉRICO MARINHO

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DE PAULO SANTIAGDO – NO FACEBOOK

Américo da Silva Marinho nasceu em 1913, no Barreiro. Aos 7 anos, ao observar umas estampas Greco-Romanas descobriu o desenho. Na Escola Primária fazia pinturas que deliciavam a sua professora, copiava as caricaturas coloridas de Amarelhe e desenhava os grandes actores: José Ricardo, Chaby Pinheiro, Eduardo Brazão e Augusto Rosa, entre outros. Aos 12 anos desenhou a lápis os seus primeiros retratos ao vivo, do natural. Foi para o liceu e aos 13 anos faltou a algumas aulas para contemplar os quadros do Museu de Arte Contemporânea. Aqui conheceu, por acaso, Columbano que, foi o seu cicerone e o acompanhou na visita ao Museu.
Em 1927 ingressou na Escola de Belas Artes. Foi o aluno melhor classificado, sendo conhecido pelo “Três Vintes”. Os seus desenhos passaram a figurar na galeria de honra da Escola de Belas Artes, onde se encontram os grandes Mestres do nosso País. Durante três anos consecutivos conquistou os Prémios Lupi e Ferreira Chaves, instituídos pelo concurso da Academia de Belas Artes.
O Instituto de Arte e Cultura promoveu um concurso de Bolseiro do Estado, para Paris, no qual participou e desenvolveu o tema “Camões e as Tágides”. Embora não tenha sido selecionado, obteve classificação em absoluto. O seu não apuramento foi motivo de protesto por parte de alguns Mestres, entre os quais, Abel Manta, que sublinhou o realismo, a prática do nu, a composição e a inteligência do artista Américo Marinho. Este e outros factos levam-no a optar pelo ensino. Vai como professor para a Ilha da Madeira. Em 1938, está presente na 1ª Missão Estética de Férias que se realizou em Guimarães, o seu trabalho sobre costumes e tradições foi um sucesso.
Faz uma monografia ilustrada com Guilherme Camarinha e Jorge Maltieira, nesta época, críticos Ingleses e Brasileiros consideram-no um dos maiores desenhadores clássicos europeus. Queriam lançá-lo no meio artístico, fizeram-lhe propostas de Bolsas para a Itália, mas a sua opção pelo ensino estava tomada.
No Barreiro esteve ligado ao Grupo apaixonado pela arte, literatura e poesia, conhecido pelo Senáculo Bocage. No Clube 22 de Novembro promoveu Cursos de Desenho e Pintura.
Américo Marinho era um apaixonado por Alburrica devido à sua atmosfera luminosa e húmida. A sua obra de arte era um prolongamento e recriação da natureza, das vivências do seu inconsciente e das paisagens exteriores. Através da sua actividade pedagógica procurou transmitir aos alunos o seu saber, estabelecendo uma simbiose entre a Arte e o Ensino. Ao longo da sua vida esteve presente em dezenas de exposições, estando a sua obra espalhada pelo mundo e com ela o Barreiro.
Residia em Santarém, Cidade onde leccionou, durante vários anos, até à reforma. Há muitos anos que tinha deixado o Barreiro, mas trazia a sua terra no coração mantendo laços de amizade e fraternidade com esta terra, laços esses bem patentes na criação do Prémio de Desenho Américo Marinho instituído pela CMB.
No dia 24 de Fevereiro de 1997 deixou-nos, criando um espaço insubstituível no coração desta cidade.

Paulo Santiago

25Maio2012 – no Facebook

(Sublinhado nosso)

ALBURRICA (ZONA DE MOINHOS DE VENTO E DE PRAIA FLUVIAL DO BARREIRO) UMA PAIXÃO DE AMÉRICO MARINHO

Para ver vídeo de Luís Ferreira da Luz (que agradecemos e cujo trabalho apreciamos) clicar em

http://youtu.be/PAdRiDKTF_Y

Manuel Sá

Sobre alfagemesantarem

Gestor/moderador do AlfagemeSantarém, Blog dos Antigos Alunos, Professores e Funcionários da Escola Industrial e Comercial de Santarém.
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2 respostas a AINDA SOBRE E DE AMÉRICO MARINHO, PINTOR E PROFESSOR DA ESCOLA INDUSTRIAL E COMERCIAL DE SANTARÉM

  1. Comentários que nos chegaram pelo Facebook:
    De António Dinis – Era uma maravilha de pessoa o prof. Marinho, nunca foi meu professor, mas pelo que me diziam os meus colegas, foi um óptimo professor;
    De Fernando Maria – Foi meu prof. de desenho de máquinas no 1º ano do curso de Serralheiros. Excelente homem e professor.
    De Isabel Pereira – Foi meu professor (acho que 2 anos). Lembro-me que quando fazíamos mais barulho ele só dizia: oh maninas!”
    De Alfredo (Do Canil Quinta do Mocho) – Foi meu professor de desenho, foi um professor de excelência.
    De Artur Santana – Como diretor de curso, foi uma vez fazer de mediador num ponto de matemática com a Dra. Maria de Lurdes Valente de Matos. Quem se lembra? Foi tudo resolvido como era seu hábito. Resolveu tudo em paz entre professora e alunos.
    Alfageme – Pois, era mesmo dele, essa capacidade de compreender, de analisar, de dialogar, embora não se desse por ele…
    José Almeida – “Foi meu professor de desenho de máquinas do curso formção de serralheiros. Sempre calmo e pronto para ajudar. Um homem com H GRANDE.”

  2. Adriana Reis diz:

    Foi meu professor e sobretudo meu amigo, tive a sorte de acompanhar o rabisco do seu lápis na calma de tardes passadas na pastelaria Meloy. Ás vezes assustava-me com uma profunda e rouca gargalhada, porque no meio daquele idoso discreto, havia uma energia brutal.

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